Manuel Luis Goucha – TVI

Dois anos! … é pouco se compararmos com os quatorze de manhãs em comum, intensos, vividos com alegria, entrega, cumplicidade e verdadeira paixão, como se fôramos um só , mas muito quando separados, arrancados a uma realidade que ilusoriamente se tinha como garantida. A vida tem destas coisas e por dores que se sintam, ainda bem que assim é, desafios há que não se podem ignorar, no caminho do crescimento e do auto-conhecimento. Dois anos em que a soube sempre vencedora, manhã após manhã, em que me vi chamado de “besta” depois de ter tanto de “bestial” a seu lado, mas em momento algum habitou em mim a raiva, o desalento, o desespero. O meu caminho era agora paralelo ao seu, árido de rumos, fértil de escolhos e intrigas mas, tal como ela, eu sabia por onde ir, inteiro e profissional.
Esta vida é para duros!
Valeu a pena, porque o amor que sempre nos uniu vai para além das audiências, da guerra de bastidores, da impressa vampírica que não olha a mentiras para sobreviver. Este amor estava-me guardado, para me saber companheiro, colega, criança, vivo. Podem passar muitos anos que este amor não esmorece ou estilhaça. Dois anos passaram. Esta manhã, por uma vez, os nossos caminhos voltaram a fundir-se na televisão que amamos, num espaço onde já fomos imensamente felizes. Não foi uma romagem de saudade, antes foi o fechar de um ciclo, que outros se abrirão, de mãos juntas, num futuro que já começou. Foi longa a noite mas … já amanheceu!

Conversando:
Nestas últimas semanas muitos
artistas se queixam de estar em
enormes dificuldades financeiras
por terem deixado de trabalhar.
Obviamente que lamento, mas me
pergunto e quando ganharam muito
meteram-se em vários negócios, a
maioria restaurantes.Era uma onda
do muito turismo, a nova mina de ouro.
Se o vírus veio fazer pensar “é que tudo
é efémero e todo o cuidado é pouco”.
Agora recorrem ao Estado e tudo quer ajuda.
Bem, e os que vivem de reformas miseráveis
ao fim de muitos anos de trabalho, que têm
que acompanhar todos os muitos aumentos,
vale a pena queixarem-se? Ninguém os ouvirá.
Mas é uma realidade que também provoca muito
sofrimento, muita dor de cabeça, muito desânimo!
Irene Alves

Reza uma lenda do Séc. XIX que um dia a Verdade e a Mentira encontraram-se. Diz a Mentira à Verdade: “Está um dia tão bonito”. E estava de facto um dia muito bonito. Passam algum tempo juntas até que chegam junto de um poço. ” A água está tão agradável, porque não tomamos um banho as duas?” sugere a Mentira. A Verdade, embora reticente, lá toca na água e a água estava realmente agradável. Despem-se então e banham-se. De repente a Mentira sai da água, veste as roupas da Verdade e foge. A Verdade salta do poço e corre todos os lugares para encontrar a Mentira e recuperar as suas vestes. O Mundo, vendo-se confrontado com a nudez da Verdade, revira os olhos, entre o desprezo e a raiva. A Verdade volta então ao poço onde desaparece para sempre, escondendo a sua vergonha.
Desde então a Mentira tem percorrido o Mundo com as roupas da Verdade, satisfazendo os caprichos das pessoas e das sociedades, e o Mundo, esse, continua a recusar-se a encarar a Verdade nua.

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(A Verdade a sair do poço, Jean-Léon Gérôme, 1896)