NAUFRÁGIO de Nilson Barcelli

nilson

Enquanto o verão
teima em preservar-se murado
pelas correntes austeras do inverno europeu,
importado sem barreiras
e acrescido do zelo provinciano dos inferiores,
também nós ardemos lentamente
numa espiral depressiva.

E o tempo do regresso às ideias
que rejeita toda a seiva das plantas
e onde as estrelas vão definhando
numa noite que escurece a cada espirro do algoz.

Brandos e arruinados,
vamos sorrindo com esta religião
que nos vende a felicidade dos pobres
em nome de um futuro luzente,
à mesa onde a vontade se dissipa “au ralenti”.

Resta-nos a cabana do esquecimento,
envolta pelas cerejeiras ao luar
ou pelas águas de Junho
a tornar o verde ainda mais verde,
onde podemos ruminar o naufrágio
à lareira baça da nossa indignação
Nilson_Barcelli

poema retirado do blogue
http://nimbypolis.blogspot.pt
com a devida autorização.