A minha alma usa o meu corpo velhaco e devasso
agitando o desejo incontrolável, que do teu sente
entregando-me ao turbilhão dos vícios delirantes
como mulher, prostituta, amiga, irmã e amante.
Fico como a relva, vulnerável, sujeita, no verão
a que qualquer brisa ou faísca, lhe acenda o fogo
e lhe dilacere as entranhas, tão subtis e tão pueris
como se eu fosse um vulcão, em constante erupção.
Olho-te, e sou cão sem dono, esperando uma festa
ganindo, extasiado, louco, e sem força para ladrar
e dispo-me, esperando o reboliço e aquele feitiço
como se o tempo fosse, naquele momento, parar.
Depois, deixo-te passear pelo meu corpo absorto
ao ritmo de uma música febril que só tu conheces
dedilhando-me de forma única, que me estremece
na apressada descida para o meu rio, teu porto.
Agora sei por que é que as flores, aquelas levianas
se abrem, plácidas, aos insetos zonzos, esfaimados
que lhes sugam, de olhos cegos, o néctar apetecido
provocando-lhes tremores e espasmos convulsivos.
Vem, amor! Não receies! Envolve-me com calma
que só me fará bem, pois estou pronta e esfomeada
de água na boca, espumando, ávida e desidratada
de uma gota de ti, que me humedeça e aconteça.
Avança! Deita-me no chão, e prende-me bem, toda
segurando-me com força selvagem e instinto animal
esmiuçando-me, já quase sem tempo, devorando-me.
Faz como o vento, e derruba habitações e plantações
invade caminhos e ruas, e devasta-me, com rigidez
numa ânsia desmedida, de muitos quilómetros hora
em rajadas dantescas, estocadas, sim, vem, agora
pois o meu corpo fustigado, vai abrir-se, sem demora.
O cheiro que de ti jorra, escorre em mim, misturado
numa amálgama sonhada, conseguida e desmesurada
onde os sentidos convergem, numa doce emboscada
provocando-me, perturbando-me e aquecendo-me
como raio de luz dourada, ou como pomba sagrada
que entra, sobrevoa e ilumina a minha vida já ditada.
Aninho-me em ti, na esperança de mais um carinho
que chega, quando me sugas a língua, devagarinho.
Após este vendaval, merecemos algo reconfortante.
Pega-me ao colo, abraça-me, dá-me mimos a valer
na fragrância da nossa banheira desafogada e ousada
alindada com pétalas de rosinhas e aromas sensuais
em carícias e movimentos fogosos, sãos e libidinosos
num intercâmbio espontâneo de tudo dar e receber.
As tuas duas mãos assustadas, parecem insuficientes
para supervisionar, tatear e afagar as minhas curvas
que te enlouquecem, te deslumbram e te apetecem.
Fecho os olhos. Tens, agora, a tua natural liberdade
que te conduz a mão para o teu mar bravo, carente
que se quer amainado, aliviado e por ti entornado
na impetuosidade descompassada dos teus sentidos
e num grito único, o meu corpo fica sujo e quente.
Abro os olhos. Somem-se as palavras. Ficamos sós.
Limpo-te as carnes já despejadas, e ali, tombadas
num cenário digno da mais deslumbrante aguarela
que as tuas mãos pintaram e sensíveis espalharam
pelo meu corpo, em ziguezagues e laivos de amor
no mais erótico quadro, onde só constávamos nós.
Autora: Luz
É mais uma amiga minha da Net, de Lisboa,
que escreve poesia de que eu gosto e teve
a gentileza de permitir que eu insiro
neste blogue um dos seus poemas.Obrigada,Luz
Sugiro uma visita ao seu blogue:
http://afetosecumplicidades.blogspot.pt