AGUARELA cedido por Luz

coco-eyes-mirror-429A minha alma usa o meu corpo velhaco e devasso

agitando o desejo incontrolável, que do teu sente

entregando-me ao turbilhão dos vícios delirantes

como mulher, prostituta, amiga, irmã e amante.

Fico como a relva, vulnerável, sujeita, no verão

a que qualquer brisa ou faísca, lhe acenda o fogo

e lhe dilacere as entranhas, tão subtis e tão pueris

como se eu fosse um vulcão, em constante erupção.

Olho-te, e sou cão sem dono, esperando uma festa

ganindo, extasiado, louco, e sem força para ladrar

e dispo-me, esperando o reboliço e aquele feitiço

como se o tempo fosse, naquele momento, parar.

Depois, deixo-te passear pelo meu corpo absorto

ao ritmo de uma música febril que só tu conheces

dedilhando-me de forma única, que me estremece

na apressada descida para o meu rio, teu porto.

Agora sei por que é que as flores, aquelas levianas

se abrem, plácidas, aos insetos zonzos, esfaimados

que lhes sugam, de olhos cegos, o néctar apetecido

provocando-lhes tremores e espasmos convulsivos.

Vem, amor! Não receies! Envolve-me com calma

que só me fará bem, pois estou pronta e esfomeada

de água na boca, espumando, ávida e desidratada

de uma gota de ti, que me humedeça e aconteça.

Avança! Deita-me no chão, e prende-me bem, toda

segurando-me com força selvagem e instinto animal

esmiuçando-me, já quase sem tempo, devorando-me.

Faz como o vento, e derruba habitações e plantações

invade caminhos e ruas, e devasta-me, com rigidez

numa ânsia desmedida, de muitos quilómetros hora

em rajadas dantescas, estocadas, sim, vem, agora

pois o meu corpo fustigado, vai abrir-se, sem demora.

O cheiro que de ti jorra, escorre em mim, misturado

numa amálgama sonhada, conseguida e desmesurada

onde os sentidos convergem, numa doce emboscada

provocando-me, perturbando-me e aquecendo-me

como raio de luz dourada, ou como pomba sagrada

que entra, sobrevoa e ilumina a minha vida já ditada.

Aninho-me em ti, na esperança de mais um carinho

que chega, quando me sugas a língua, devagarinho.

Após este vendaval, merecemos algo reconfortante.

Pega-me ao colo, abraça-me, dá-me mimos a valer

na fragrância da nossa banheira desafogada e ousada

alindada com pétalas de rosinhas e aromas sensuais

em carícias e movimentos fogosos, sãos e libidinosos

num intercâmbio espontâneo de tudo dar e receber.

As tuas duas mãos assustadas, parecem insuficientes

para supervisionar, tatear e afagar as minhas curvas

que te enlouquecem, te deslumbram e te apetecem.

Fecho os olhos. Tens, agora, a tua natural liberdade

que te conduz a mão para o teu mar bravo, carente

que se quer amainado, aliviado e por ti entornado

na impetuosidade descompassada dos teus sentidos

e num grito único, o meu corpo fica sujo e quente.

Abro os olhos. Somem-se as palavras. Ficamos sós.

Limpo-te as carnes já despejadas, e ali, tombadas

num cenário digno da mais deslumbrante aguarela

que as tuas mãos pintaram e sensíveis espalharam

pelo meu corpo, em ziguezagues e laivos de amor

no mais erótico quadro, onde só constávamos nós.

Autora: Luz

É mais uma amiga minha da Net, de Lisboa,
que escreve poesia de que eu gosto e teve
a gentileza de permitir que eu insiro
neste blogue um dos seus poemas.Obrigada,Luz

Sugiro uma visita ao seu blogue:
http://afetosecumplicidades.blogspot.pt

Bergman

Poucos diretores imprimem sua marca e transformam suas películas em obras de arte. Trabalhos capazes de tocam a quem assiste de maneira tão profunda e irreversível que alteram sua percepção da própria vida. Ingmar Bergman é um desses exemplos. Suas obras estão repletas de poesia e são de extrema complexidade. Mas não fuja. Assistir os filmes de Bergman é uma experiência pessoal, única e uma oportunidade para conhecer intimamente o diretor.

Fonte:OBVIOUS