Mulheres de Outono – Rosa Maria (a madrinha deste blogue) que muito admiro

 

São mulheres de Outono…silenciosas…ramos secos por colher
Esqueceram quem eram…a dor deixou de doer…já adormeceu
No peito raízes de mágoa…no ventre a sua essência de mulher
A noite já não tem chama…o olhar deixou de brilhar…escureceu

Trazem no rosto angústia…mulheres feridas…vão chorando
Magoadas…esquecidas…vagam envoltas no próprio lamento
As mãos são ausência…os braços a espera…vão definhando
Amarguradas…trazem no peito a mágoa…na pele o tempo

Entregaram a alma nas esquinas dos corpos feridos…violados
Foram chão…sabor amargo…bebem silêncios…mastigam a dor
Os seus anseios…os seus sonhos…ficaram nos lençóis gelados
Espectros…destinos marcados…são tristes despojos de amor

São sombras silenciosas…treva escura gemidos da madrugada
Escondem as feridas…aprisionam o tempo…lambem as mágoas
Amordaçadas já nada esperam…vazias de tudo…cheias de nada
Escravas da dor…sepultaram a ilusão…esconderam as lágrimas

Tantas vezes morreram…com um sorriso no peito a sangrar
Há medos desenhados no corpo e na alma…negros infernos
Já não sabem amar…despiram a ilusão…deixaram de sonhar
Já não gritam…já não choram…são apenas lamentos eternos

Passos errantes…tocando o inferno…entregam-se à noite
Percorrem o deserto…caminhando nos próprios destroços
Muros…grades…laços…sombras apenas…beijando a morte
Espelhos negros…rostos marcados…rugas na pele e nos ossos

ROSAMARIA

Este foi o poema que declamei no lançamento da Antologia de Poesia Contemporânea “Entre o Sono e o Sonho” Vol. III, da Chiado Editora, que teve lugar no Casino Estoril.

sugiro uma visita ao seu blogue:
http://rosasolidao.blogspot.com